30.1.07

Os méritos das mulheres e assim...

Foi eleita no dia 26 para o cargo de Procuradora Distrital de Lisboa uma senhora, ainda por cima negra.
Coisa rara...
Coisa rara para uma mulher.
Coisa mais rara ainda para uma mulher negra.

Bom, Francisca Van Dunen, é assim que se chama a Senhora, era já à algum tempo coordenadora do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa e ao que parece com um muito bom trabalho, e que sou ou que sei eu para estar a pôr em causa a competência da Senhora, e de qualquer forma não por aí que quero ir.
Li por aqui a noticia e indignam-me os comentários que se fazem à dita eleição, a não ser que todos os comentadores sejam profundos conhecedores do trabalho da senhora em causa, o que me parece difícil, indigna-me que todos se congratulem com o facto de ter sido escolhida uma mulher, e mais, que seja negra.
Então e apenas por ser mulher, apenas por ser negra, a senhora chegou onde chegou porque tem mérito?
Se concordo que o apelido, a cor da pele, sexo, amigos e etc. não se devem sobrepor nunca à competência, e infelizmente é o que acontece mais por estas bandas, não vamos agora cair no inverso que é à força da quebra de um preconceito fazer emergir um sistema oposto em que se é mulher é competente, se é negro é competente, se é homossexual assumido é competente, etc.
Quanto à Senhora não conheço e faço lá ideia porque chegou onde chegou, sei lá se tem amigos, conhecidos ou compadrios, sim porque ser mulher ou ser negro não é antónimo de ter cunha, se é a mais competente para o cargo e o mostrou então apenas se tem de salientar como positivo o facto de ter funcionado um sistema meritocrata, apenas se deve valorizar o facto de ser a mais capaz e a mais bem preparada pessoa que ocupa um cargo, seja mulher, homem, negro, branco, amarelo ou cor-de-rosa, pois é assim que tem que ser, sempre.

Por curiosidade resolvi fazer um pouco de investigação (meras googladas) acerca do assunto para entender melhor o processo (pois destas coisas não percebo patavina)
O procurador-geral da República (PGR) apresenta três nomes para o cargo e depois o Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) elege o novo Procurador Distrital de Lisboa de entre esses três nomes, ou não, é possível que um quarto nome seja apresentado, pelo Conselho Superior, votado e nomeado.
Neste caso o (PGR) nomeu três nomes: Boaventura Marques da Costa, Francisca Van Dunen, Santos Soares.
Depois, na Sexta-feira o CSMP elegeu então Francisca Van Dunen.

E por curiosidade, tambem deixo a composição do (CSMP)

CSMP é formado por 19 elementos, sendo 12 provenientes da magistratura do Ministério Público, cinco indicados pela Assembleia da República e dois pelo ministro da Justiça.

Presidente
Procurador-geral da República

5 eleitos pelo Parlamento
Rui Pereira
Indicado pelo PS. Presidente da Unidade de Missão para a Reforma Penal. Casado com a juíza do Tribunal Constitucional Fernanda Palma
Eduardo Paz Ferreira
Indicado pelo PS. Professor universitário. Casado com a procuradora-geral-adjunta Francisca Van Dunen
João Correia
Indicado pelo PS. Advogado
Filipe Fraústo da Silva
Indicado pelo PSD. Advogado
António Barradas Leitão
Indicado pelo PSD. Advogado. Vogal do CSMP a tempo inteiro
2 designados pelo ministro
Júlio Castro Caldas Antigo bastonário dos advogados. Ex-ministro da Defesa de António Guterres
Rodrigues Maximiano
Procurador-geral-adjunto jubilado. Casado com a procuradora-geral-adjunta Cândida Almeida
4 procuradores-gerais-distritais
Lisboa, Porto, Coimbra e Évora
7 procuradores
Dos vários níveis da hierarquia, eleitos pelos pares

Tal como o Adrian Mole...

28.1.07

Sex. [26] 21:30 Sala Dr. Félix Ribeiro

Aurora de F. W. Murnau
Engraçado.
Achei engraçado ouvir, ampliados pelo silencio, os sons das pessoas a remexer nas cadeiras, acertos de posição, encostos e recostos, tosses.
Mas durou pouco, apenas os escassos minutos até a beleza das imagens hipnotizar todos os presentes e nos tornar imóveis perante seu barulho ensurdecedor.
O cinema é cada vez mais para mim imagem.

E às vozes que dizem ser este o mais belo filme de sempre digo que só não posso concordar porque ainda não vi todos os outros.

Ready made

Marcel Duchamp nunca desejou estabelecer verdades, antes pelo contrário tudo o que sempre fez foi questionar.
A sua obra foi uma provocação, uma instigação ao pensamento e à reflexão cujas questões levantadas catapultaram toda a criação artística do sec. XX.
Parece dificil entender como uma banalidade, como é um urinol de pernas para o ar, pode algum momento ser considerado como um objecto de arte. O curioso, e é aqui que reside o fascínio da coisa, é que Marcel Duchamp assinou a peça não com o seu nome mas com o pseudónimo R Mutt e entregou-a para exposição na Sociedade de Artistas Independentes de Nova York, pagou a taxa de inscrição e esperou as reacções. Acontece que Duchamp era não só jurado como sócio fundador de sociedade e estava lá para sentir a reacção e deleitar-se com ela. A obra foi rejeitada de uma exposição onde era suposto não haver selecção. Aceitavam-se todas as obras, deliberadamente. Duchamp não concordou, até porque a grande atracção da exposição eram as esculturas abstractas com contornos orgânicos de Constantin Brancusi cujas semelhanças de formas com o urinol eram evidentes, e demitiu-se da Sociedade. Leva então a cabo uma acção de promoção da obra do tal R Mutt que não se sabia ainda ser o próprio Marcel Duchamp, fotografando-a para revistas e incluindo artigos onde eram elogiadas as formas do urinol.
Pois bem, a obra de Duchamp não se resume a isto mas a marca em toda ela é a do corte com as regras, é a de revolucionar o que é pressuposto.

Aquilo a que levou, ao longo do tempo esta forma de pensar a arte e o objecto artístico foi à conceptualização, à imposição das ideias ao material, à desmaterialização do objecto de arte, à desmaterialização da arte.



Auto funeral, Keith Arnatt 1968

A referência continua ao desaparecimento do objecto de arte sugeriu-me o desaparecimento enventual do próprio artista
Keith Arnatt



A identidade de algo como obra de arte consoante possui ou não um atributo formal intrínseco.
A identidade de algo como obra de arte consoante a sua apresentação contextual.

Se está no museu então é arte.
Se o artista diz que é arte então é porque é arte.

No extremo disto tudo em 1966\67 Atkinson & Baldwin postularam que uma coluna de ar é arte; Oxfordshire é arte; O exército Francês é arte; O pressuposto que o muro ainda por construir entre duas casas, os numero 25 e 26 da Sunnybank é um objecto de arte; O pressuposto que o ensaio que investiga o pressuposto é em si um objecto de arte.

E quem é quem para dizer o contrário.
São artistas os rapazes.

22.1.07

A terra plana

(...)

Para compreender o espaço a quatro dimensões devemos olhar atentamente para o processo que nos permite compreender objectos tridimensionais a partir de desenhos no plano. A forma como, a partir desses desenhos bidimensionais, nós formamos imagens mentais de objectos a três dimensões serve de base para tentar, a partir de imagens tridimensionais, criar representações mentais de objectos a quatro dimensões. Um estudo cuidadoso das dimensões dois e três e, em particular, do processo de passagem de um caso para o outro, são essenciais.

Para compreender o hipercubo tetradimensional devemos, então, considerar o cubo tridimensional e o seu correspondente a duas dimensões, o quadrado. Na realidade podemos ir mais longe e considerar o análogo unidimensional, o segmento de recta, e mesmo o ponto, que é a versão de dimensão nula. Esta família de objectos--o ponto, o segmento, o quadrado, o cubo e o hipercubo--é uma colecção maravilhosa de objectos interrelacionados cujas relações agora investigamos.

A primeira observação é que as versões de menor dimensão são partes constitutivas das de dimensão superior. Por exemplo, o cubo tem faces que são quadrados, o quadrado tem arestas que são segmentos, o segmento tem extremos que são pontos. Isto sugere que o hipercubo terá faces cúbicas, o que é o caso. Assim como o cubo tem faces quadradas que se encontram em segmentos (arestas) e pontos (vértices), o hipercubo tem faces cúbicas que se unem segundo as respectivas faces quadradas que se encontram em segmentos e pontos. Mas quantas faces tem o hipercubo, e como se relacionam elas entre si? Para o compreender melhor vamos contar as suas partes.

Comecemos por olhar de novo para os análogos de dimensão menor. Para facilitar vamos chamar ``cubos'' a todos os objectos, mas identificar a respectiva dimensão. Assim, o 3-cubo é o cubo usual, o 2-cubo é o quadrado, o 1-cubo o segmento e o 0-cubo o ponto. O hipercubo é portanto o 4-cubo. Esta notação permite-nos falar do n-cubo se não quizermos particularizar nenhum deles. Assim podemos enunciar facilmente propriedades que todos os n-cubos satisfazem.

A nossa primeira observação é que o n-cubo pode ser formado movendo o (n-1)-cubo numa direcção que lhe seja perpendicular. Por exemplo, movendo um segmento de comprimento unitário (1-cubo) uma unidade numa direcção perpendicular ao segmento obtemos um quadrado (2-cubo). De forma semelhante, se movermos um quadrado unitário uma unidade numa direcção que lhe seja perpendicular, geramos um cubo (3-cubo). O mesmo vale até para pontos: se movermos um ponto numa direcção, percorremos um segmento. A sequência é clara: um ponto move-se formando um segmento, um segmento move-se formando um quadrado, um quadrado move-se gerando um cubo. A conclusão é agora evidente: se movermos um cubo, numa direcção que lhe seja perpendicular, percorremos um hipercubo.

A dificuldade está em encontrar esta direcção. Ela não existe no nosso mundo tridimensional. O primeiro passo na quarta dimensão consiste em imaginar esta nova direcção. Se bem que não tenha correspondência no nosso mundo físico, podemos elaborar sobre as propriedades que tal conjunto de quatro dimensões deve possuir: cada uma deve ser ortogonal às outras três. Como a nossa realidade física não comporta tais dimensões, a nossa ideia de um hipercubo será sempre incompleta ou distorcida.

(...)


Coloquemo-nos no lugar de um ser bidimensional e tentemos entender a terceira dimensão, a nossa terceira dimensão.
Talvez se entendermos essa dificuldade nos seja mais fácil visualizar mentalmente um espaço de quatro dimensões geométricas.

Quero ler isto:

A dor

A dor.
A dor que faz sentir, que faz mover, que faz fazer.
Quero que doa.
Quero fazer.
A dor.
A bela da dor.
Infligida de fora. não controlada.
A dor impele.
A dor agita.
A dor cria.

A porra da melancolia da felicidade.
Não gosto disto.
Atrevo-me a supor que a felicidade reside na busca dela própria.
A felicidade é um conceito vazio.

Mr Syd

Welcome my son...

Existe de facto uma máquina.
Existe uma máquina cheia de engrenagens e rodas dentadas, eixos e veios, cabos, fios, rotores e motores. Uma máquina imensa, aglutinadora, que nos suga a todos.
Desligá-la... Já ninguém sabe.

Just by chance

17.1.07

Julia Margaret Cameron

Sadness
1864

Sex. [26] 21:30 Sala Dr. Félix Ribeiro

É desta que não perco.
É o início do preenchimento de um vazio cinéfilo que há dentro de mim.

Aurora de F. W. Murnau

10.1.07

Parque de estacionar

Vigo, 2006

5.1.07

Fuinho

Para reflexão de quem quer que esteja disposto a reflectir

I know it´s over, The Smiths

Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
And as I climb into an empty bed
Oh well. Enough said.
I know it's over - still I cling
I don't know where else I can go
Oh ...
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
See, the sea wants to take me
The knife wants to slit me
Do you think you can help me ?
Sad veiled bride, please be happy
Handsome groom, give her room
Loud, loutish lover, treat her kindly
(Though she needs you
More than she loves you)
And I know it's over - still I cling
I don't know where else I can go
Over and over and over and over
Over and over, la ...
I know it's over
And it never really began
But in my heart it was so real
And you even spoke to me, and said :
"If you're so funny
Then why are you on your own tonight ?
And if you're so clever
Then why are you on your own tonight ?
If you're so very entertaining
Then why are you on your own tonight ?
If you're so very good-looking
Why do you sleep alone tonight ?
I know ...
'Cause tonight is just like any other night
That's why you're on your own tonight
With your triumphs and your charms
While they're in each other's arms..."
It's so easy to laugh
It's so easy to hate
It takes strength to be gentle and kind
Over, over, over, over
It's so easy to laugh
It's so easy to hate
It takes guts to be gentle and kind
Over, over
Love is Natural and Real
But not for you, my love
Not tonight, my love
Love is Natural and Real
But not for such as you and I, my love
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can feel the soil falling over my ...
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can even feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can feel the soil falling over my ...