28.1.07

Ready made

Marcel Duchamp nunca desejou estabelecer verdades, antes pelo contrário tudo o que sempre fez foi questionar.
A sua obra foi uma provocação, uma instigação ao pensamento e à reflexão cujas questões levantadas catapultaram toda a criação artística do sec. XX.
Parece dificil entender como uma banalidade, como é um urinol de pernas para o ar, pode algum momento ser considerado como um objecto de arte. O curioso, e é aqui que reside o fascínio da coisa, é que Marcel Duchamp assinou a peça não com o seu nome mas com o pseudónimo R Mutt e entregou-a para exposição na Sociedade de Artistas Independentes de Nova York, pagou a taxa de inscrição e esperou as reacções. Acontece que Duchamp era não só jurado como sócio fundador de sociedade e estava lá para sentir a reacção e deleitar-se com ela. A obra foi rejeitada de uma exposição onde era suposto não haver selecção. Aceitavam-se todas as obras, deliberadamente. Duchamp não concordou, até porque a grande atracção da exposição eram as esculturas abstractas com contornos orgânicos de Constantin Brancusi cujas semelhanças de formas com o urinol eram evidentes, e demitiu-se da Sociedade. Leva então a cabo uma acção de promoção da obra do tal R Mutt que não se sabia ainda ser o próprio Marcel Duchamp, fotografando-a para revistas e incluindo artigos onde eram elogiadas as formas do urinol.
Pois bem, a obra de Duchamp não se resume a isto mas a marca em toda ela é a do corte com as regras, é a de revolucionar o que é pressuposto.

Aquilo a que levou, ao longo do tempo esta forma de pensar a arte e o objecto artístico foi à conceptualização, à imposição das ideias ao material, à desmaterialização do objecto de arte, à desmaterialização da arte.



Auto funeral, Keith Arnatt 1968

A referência continua ao desaparecimento do objecto de arte sugeriu-me o desaparecimento enventual do próprio artista
Keith Arnatt



A identidade de algo como obra de arte consoante possui ou não um atributo formal intrínseco.
A identidade de algo como obra de arte consoante a sua apresentação contextual.

Se está no museu então é arte.
Se o artista diz que é arte então é porque é arte.

No extremo disto tudo em 1966\67 Atkinson & Baldwin postularam que uma coluna de ar é arte; Oxfordshire é arte; O exército Francês é arte; O pressuposto que o muro ainda por construir entre duas casas, os numero 25 e 26 da Sunnybank é um objecto de arte; O pressuposto que o ensaio que investiga o pressuposto é em si um objecto de arte.

E quem é quem para dizer o contrário.
São artistas os rapazes.